quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Desguarnecidos: Aluguel de viaturas da Guarda Municipal de Curitiba custa caro ao município

Os problemas enfrentados pelos guardas municipais de Curitiba relacionados aos equipamentos de transporte têm sido alvo da reportagem especial “Desguarnecidos”, produzida pelo Sismuc. A série marca também o Dia Nacional do Guarda (10 de outubro). A novidade é que o sindicato teve acesso aos contratos para aluguel de veículos assinado entre a Prefeitura e a empresa Cotrans Locação de Veículos Ltda. As informações demonstram que a administração municipal poderia renovar toda a frota, comprando as viaturas, ao invés de pagar aluguel.  

Dos cerca de 100 veículos utilizados pela Guarda, entre carros de passeio, motos e utilitários, apenas 21 são patrimonais. As viaturas foram adquiridas a partir de 2008 por meio do Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania (Pronasci), do Governo Federal. Os demais veículos são cedidos por meio do contrato de aluguel com a Cotrans. Segundo consta no contrato assinado em 2011 pelo prefeito Luciano Ducci, a frota alugada da Guarda Municipal é composta por 68 veículos. Em fevereiro deste ano, o atual prefeito Luciano Ducci anunciou a renovação da frota. Ele só não disse que os 10 automóveis Gol, três Fiat Doblô e 30 motos 300 cilindradas são veículos alugados.

A diferença entre os veículos patrimoniais e os alugados é que os carros alugados tem o seguro garantido pela Cotrans. A cláusula 7ª do contrato assinado em dezembro de 2005 exige da empresa “executar seguro total dos veículos, com isenção total de franquia, de forma que o contratante seja isentado de quaisquer responsabilidades por danos de qualquer natureza nos veículos locados, ao condutor, aos passageiros e aos terceiros”.

O fato dos veículos patrimoniais não terem seguro traz um problema para os guardas municipais. Além de arcar com multas, o segmento tem sido obrigado a pagar as despesas em caso de acidente com uma dessas viaturas.

Valores
Outra questão que vem resultando em investigações são os valores dos contratos assinados com a Cotrans. Os veículos alugados custaram aos cofres públicos R$ 38,9 milhões em 2010. No ano passado o mesmo contrato sofreu aditivos que chegaram aos R$ 20 milhões. Já em 2012 o valor total é de R$ 55,8 milhões. 

Os aluguéis variam entre R$ 1 mil e R$ 7 mil mensais, conforme divulgado pela própria administração municipal. Caso a Prefeitura optasse em comprar os veículos, seria possível aumentar a frota e garantir a sua manutenção. Com os mesmos R$ 55,8 milhões é possível adquirir cerca de 1,5 mil carros populares, no valor médio de R$ 30 mil, e ainda sobraria dinheiro para a manutenção e seguro da frota.

Se aparentemente é mais barato comprar do que alugar os carros, porque a Prefeitura tem optado em manter os contratos de aluguel com a Cotrans? 

Por meio de nota da assessoria de imprensa, a Prefeitura justifica que “a locação de veículos é prática comum em órgãos públicos municipais, estaduais e federais. O alto custo de manutenção dos mesmos, bem como a depreciação de valores no mercado, inviabiliza a aquisição de frota própria. No caso da Guarda Municipal, o uso máximo das viaturas é de três anos. Após este período, os carros teriam que ir a leilão, o que seria um desperdício de dinheiro público”.  

Denúncia na Câmara
Uma denúncia apresentada pela vereadora Professor Josete, ainda em 2005, apontava o beneficiamento da Cotrans no processo licitatório. Entre os problemas denunciados está o fato de o edital não prever valor mínimo de seguro de acidentes pessoais. A omissão abriria brecha para as empresas concorrentes apresentarem valores ínfimos para o seguro. 

Mais da Cotrans
A Cotrans, presidida por Osni Pacheco, mantém o contrato de terceirização da frota com a Prefeitura de Curitiba há mais de 20 anos. De acordo com informações disponíveis em seu site, a empresa atende outras 17 prefeituras, vários outros órgãos públicos e empresas privadas no Paraná, Santa Catarina e São Paulo.

Bicicletas encostadas
Recentemente também veio a público a falta de planejamento da administração municipal no programa Ciclopatrulha. Das 80 bicicletas compradas para a Guarda Municipal, apenas 30 são usadas. Além disso, foram gastos mais de R$ 100 mil na compra e para equipar as bicicletas. Segundo a Secretaria de Defesa Social, das 80 bicicletas que compõem a frota, 39 estão distribuídas nos parques, 30 não circulam por falta de efetivo e 21 estão quebradas. 

O fato dos veículos irem à leilão após a vida útil não é um "desperdício de dinheiro público", como alega a assessoria de imprensa da Prefeitura, e sim lucro, pois os veículos locados após a sua vida útil retorna para a Cotrans que os manda para leilão, ficando com a arrecadação do leilão.

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